terça-feira, 15 de julho de 2008

Tendinite é a inflamação das bainhas dos tendões e dos próprios tendões, causada pela repetição de movimentos sem que haja intervalos de descanso.

Em longas escaladas é que a doença pode começar a se desenvolver. Confira o artigo de Roberto Cardia.

Tendinite e a Medicina Tradicional Chinesa (Artigo publicado na revista Fator 2. número 22, fevereiro. 2003)



Ao sentir um leve desconforto ou uma dor contínua, o tratamento já será indicado. Este é o estágio inicial da doença e ainda é reversível. Ignorar o tratamento nesta fase, dando continuidade ao esforço repetitivo, aumenta o tempo de permanência da patologia e, obviamente, o de recuperação. Portanto, o afastamento temporário das escaladas aliado ao tratamento orientado, elimina as dores e as inflamações e, na maioria dos casos, a recuperação é total.

Tendinite é a inflamação das bainhas dos tendões e dos próprios tendões, causada pela repetição de movimentos sem que haja intervalos de descanso. Por falta de pausas ou pausas por períodos insuficientes para a recuperação muscular em longas escaladas é que a doença começa a se desenvolver. O sedentarismo, a baixa resistência física e a vontade de ultrapassar os limites são os principais fatores contribuintes para o desenvolvimento da doença. No caso da escalada, as áreas corpóreas mais afetadas são as articulações dos dedos, punho, cotovelos e ombros, sendo que, algumas vezes, bilateralmente, podendo variar de lesões leves a crônicas graves.

Geralmente, a procura por tratamento se dá quando o estágio da doença está avançado. A recuperação para os estados crônicos é lenta e o repouso do movimento afetado deve ser total, caso contrário, o escalador, que se submete às mesmas circunstâncias que lesaram os tendões anteriormente, apresentará novamente os mesmos sintomas em um período bem menor do que da primeira vez.

A cura para os casos crônicos é muito difícil, pois tratando-se de escaladores, uma parede é sempre um convite irrecusável e a intenção de afastar-se do esporte, ou até mesmo de abandoná-lo é inaceitável.

Trata-se de um caso muito delicado, pois a cura tão cedo não há de chegar e o tratamento deverá, pelo menos, estar sendo feito em paralelo como tentativa de amenizar a evolução do estado crônico. Infelizmente, isto nem sempre ocorre e, na maioria das vezes, o afastamento é definitivo.

Os sintomas da doença variam de dores em diferentes graus, desconforto, pontadas, fraqueza muscular e difícil movimentação da área acometida. Geralmente relatam-se no dia a dia ao dirigir um carro, carregar as compras do supermercado e até mesmo escrever ou teclar. Em estágios avançados pode haver dores insuportáveis, perda parcial ou total dos movimentos, atrofias e paralisias.

A Medicina Tradicional Chinesa e a Tendinite

Os primeiros registros terapêuticos na China são da dinastia Shang, no ano de 1766 a.C.

A Medicina Tradicional Chinesa sustenta que os seus tratamentos sejam elaborados em "pontos" localizados e selecionados ao longo do corpo, incluídos em vários trajetos chamado "meridianos". Estes meridianos estão relacionados aos órgãos internos que, por sua vez, controlam e governam várias funções motoras e emocionais.

No conceito oriental chinês, a tendinite é a obstrução do fluxo energético em alguns canais, o que dificulta a circulação de Qi (energia) e Xue (sangue) da região obstruída. Estes dois são interdependentes, enquanto o Qi movimenta o Xue ao longo do corpo, o Xue, por sua vez, faz a nutrição do Qi. Se o Qi parar, o Xue também irá parar e acarretará uma estagnação, causando sintomas que serão mencionados logo a seguir.

Na Medicina Tradicional Chinesa o Gan (fígado) é um sistema complexo que faz correspondências com as emoções, tecidos corporais, órgão dos sentidos, cor, clima, som, sabor, dentre outros.

O Gan é o responsável pelo funcionamento normal dos tendões, nutrindo-os com o seu Qi e Xue. Quando o Xue do Gan se torna deficiente, os tendões podem ser acometidos de fraqueza, debilidade articular na contração e relaxamento, espasmos ou tremores. Este não seria o caso da tendinite do escalador, porém, a obstrução de uma parte dos canais causada pela escalada, quase sempre compromete a função energética do Gan.

Pelo fato do canal estar obstruído e as funções energéticas do Gan normalizadas, haverá um excesso de energia em outra parte do corpo, mais especificamente no próprio Gan.

Escaladores que apresentam alguma desarmonia no Gan podem apresentar facilmente sintomas como nervosismo, irrequietude, irritação, raiva ou acessos de fúria, estando propensos a desenvolver a tendinite mais rapidamente na prática esportiva.

A invasão de agentes patogênicos externos, como a invasão de vento frio (gripes e resfriados), são chamadas de energias perversas. Invadem o organismo não somente pelas vias orais e nasais, mas também por outras áreas do corpo como, por exemplo, das pontas dos dedos até o cotovelo. O Qi, juntamente com o Xue têm a função de aquecer, umedecer e proteger o corpo contra os agentes patogênicos externos. Desta forma, o escalador que contrair a patologia da tendinite terá uma baixa na defesa energética daquela área, podendo ser invadido pelo vento frio mais facilmente.

O Tratamento Chinês

O tratamento da tendinite na Medicina Tradicional Chinesa consiste, principalmente, na observação minuciosa da localização da dor e de seu respectivo trajeto.

Existem vários métodos terapêuticos para o tratamento da tendinite, como por exemplo: moxabustão, acupuntura e fitoterapia. Estas são estratégias terapêuticas escolhidas através de um diagnóstico preciso e complexo obtido por meio da anamnese.

É importante citar que, após o diagnóstico, se a terapêutica escolhida for a mesma para duas pessoas acometidas pela tendinite, a técnica de conduzi-la possivelmente será diferente, mas em todos os casos, o afastamento temporário das escaladas será obrigatório.

Portanto, qualquer que seja o método de tratamento que essa medicina adote, é preconizado para todos os casos, a seguinte definição - harmonização orgânica através do equilíbrio energético das polaridades Yin Yang.

Para se obter maiores chances percentuais de chegar a esse equilíbrio energético, é importante o tratamento estar aliado a correção dos hábitos alimentares e a horários de sono regulares.

As terapias complementares (alternativas) geralmente são procuradas nos estágios finais da doença, quando o tratamento da medicina ocidental não surtiu efeito.

Segundo os terapeutas, as terapias complementares deveriam ser as primeiras a serem indicadas e não as últimas, podendo haver ótimos resultados sem a agressão do organismo pela ingestão de drogas farmacêuticas.

Moxabustão (aplicação e resultados)

Antigamente as pedras eram aquecidas ao sol para serem utilizadas sobre pressão nos pontos da dor, com a finalidade de aliviá-la.

Posteriormente, foi a vez da queima de ervas secas... Mas, foi na Dinastia Sung, no período de 960 a 1260 d.C. que as técnicas ganharam regras e foram definidas.

Moxabustão é um método de tratamento muito popular na China, feito através da produção do calor pela queima da erva artemísia vulgaris. A planta é seca, moída a pó e enrolada na forma de um bastão assemelhando-se a um charuto. Após a sua queima, o bastão é direcionado à pele para emitir calor necessário e estimular o ponto selecionado sem causar desconforto ou queimaduras ao paciente.

A técnica de moxabustão para tendinites e inflamações diversas, de certa forma é simples. Apresenta resultados imediatos como relaxamento muscular, aumento do fluxo de Qi e Xue e quase sempre alivia as dores. Um dos defensores desta técnica para a cura de inflamações, tanto nos estados agudos como crônicos, é o Dr. Xu Jie, do Departamento de Traumatologia da Faculdade de Jiangxi de Medicina Chinesa. Tom Sintam Wen em sua obra "Acupuntura Clássica Chinesa", faz a mesma referência com algumas considerações.

Para iniciar esse tratamento deve-se consultar um profissional do ramo para que faça essas aplicações, pois ele detém conhecimentos de tempo de duração, técnicas específicas, distância da pele e localização dos pontos através das estruturas anatômicas. Na maioria dos casos, depois da primeira consulta, o paciente bem orientado pela ajuda do profissional poderá facilmente aplicar-se com a técnica de moxabustão em sua própria residência.

Existem inúmeras técnicas de moxabustão e, a escolha de uma ou mais destas técnicas para o tratamento será de acordo com a manifestação (irradiação e localidade da dor) da tendinite. Infelizmente, seria impossível descrevê-las todas neste artigo.

A busca pelo tratamento da tendinite e de outras patologias através da medicina ocidental ou oriental é freqüente e ambas têm o interesse de proporcionar a cura para qualquer enfermidade, devendo sempre atuar em conjunto. Qualquer tratamento será válido, desde que o profissional tenha domínio das técnicas a serem empregadas e, quando necessário, encaminhar o paciente a um outro profissional que possa oferecer melhor suporte e resultados relevantes. Desta forma, pode-se realmente acreditar que os alívios dos sofrimentos das pessoas e os resultados para se alcançar a cura estão sendo ampliados.

Ac. Roberto Cardia Formado pela Academia Brasileira de Arte e Ciência Oriental

Para maiores esclarecimentos: Tel: 8867-3575 e-mail: robertocardia@ig.com.br

Tendinite e Escalada

Fonte: Roberto Cardia
Cidade: Rio de Janeiro-RJ
Fotos: Roberto Cardia

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